Olá Pai Pereira,
há tanto tempo que partiste. Todos os dias me lembro ti, mesmo que em pensamentos, a tua imagem anda sempre comigo. Já lá vão dezoito anos, desde o dia em que te fostes para sempre. Em que deixas-te um vazio no coração de todos aqueles que te queriam bem. Foi duro. Tu que dizias que não irias festejar o teu aniversário, uns dias antes, lá te decidis-te e foste aquela feira saber da boa carne, para que nada faltasse naquele dia, em que gostavas de ver a familía toda reunida. A mãe Palmira dizia sempre que a casa não tinha condições, mas tu insistias que haveria de caber toda a gente. Quando era com agrado, todos entravam e comiam. Notava-se no teu olhar, a felicidade de ter toda a gente à tua beira. Não eras homem dado a receber prendas, bastava-te a companhia da familía. Sempre que havia uma festa lá em casa, fazias questão que não faltasse nada. Mas eras sempre assim, na mesa nunca podia faltar o comer e sempre do bom e do melhor. Gostavas sim de respeito à mesa. Não gostavas que os filhos discutissem entre eles e tentavas sempre que estivessem todos de bem. Por vezes, no meio da confusão toda que se gerava nesses dias, parava e olhava para ti. Um homem com um semblante duro, mas com um coração do tamanho do mundo. Quantas vezes pensei que não conseguias dar carinho a ninguém, mas à tua maneira gostavas de todos nós. A prova esta, que quando os médicos aqui no hospital, me mandaram para casa, porque não havia nada a fazer, foste o primeiro a dar soluções para que fosse para outro hospital, foste tu quem deixou o carro à disposição para o transporte, foste tu que muitas vezes me levou às consultas a Espanha. Além de dever a vida à minha mãe, também a devo a ti. Foste um Pai, sempre estiveste presente e nunca deixas-te que nada nos faltasse.
Hoje, mulher madura que sou, ainda choro por ti. Esta carta esta a ser escrita com as lágrimas a correr. Porque ainda tenho tantas saudades tuas. Ainda me dói tanto recordar-te. Já passou tanto tempo e ainda não consigo viver sem a tua presença. Eu sei que por vezes, pareço ausente e me esqueço do mundo. Mas sou assim. Tenho levado alguns pontapés da vida e isso por vezes torna-me um pouco mais fria.
Aquilo que ainda me aquece um pouco o coração, é que quando sonho contigo, vejo-te sempre com um sorriso, sempre com uma calma, calma essa que era mesmo própria de ti. Nunca até hoje, aqui tinha falado de ti.
Algumas pessoas já me limparam as lágrimas neste dia. Algumas pessoas me deram palavras de carinho e conforto. Mas hoje, aqui sozinha, decidi escrever para ti. Dizer-te o quanto gosto de ti e que depois de tanto tempo, continuas vivo na minha memória.
Sei que caminhas sempre do meu lado. Eu sei também que por vezes faço coisas que tu não gostas, mas lá no fundo eu sei que me entendes. Sabes que sou feliz, tenho dois filhos que adoro, mas sabes também o que me falta para a felicidade ser completa. Eu sei que está nas minhas mãos, mas por enquanto não me apetece lutar por nada.
Porque me dói tanto ainda pensar em ti? Ainda fazias tanta falta.
Se fosses vivo, hoje estariamos todos reunidos, para te dar os parabéns pelos teus 98 anos. De certeza, estarias mais uma vez orgulhoso de completares mais um ano de vida, mas o teu coração não o quis e hoje continuo a chorar por ti e mais logo, vou visitar-te. Levar-te umas flores e deixar-te mais umas lágrimas de dor.
Para ti meu querido avô, são os meus pensamentos todos os dias. Um dia haveremos todos de nos encontrar. Até lá, vela por nós, para que tenhamos uma existência feliz. Deixo-te um beijinho com todo o meu amor e carinho.
Da tua neta que nunca te esquece
Acredito que maior parte das pessoas que por aqui passa pertençam ao grupo de pessoas que sabe o que é a dor de perder alguém, seja família seja amigo.
Para além de outros "pontapés" que a vida já nos deu, ambas conhecemos a dor que é perder um pai e outros familiares. Sofremos com a partida deles porque cada um e todos eles são insubstituíveis na nossa vida, deixam um vazio que nós vamos preenchendo com recordações.
Por isso, enxuga essas lágrimas e sorri; sorri porque sentes a falta deles, sorri porque tens as tuas lembranças como um tesouro que ninguém te roubará.
Triste mesmo seria se a falta deles fosse indiferente para ti. Serias uma mulher vazia e isso sim era um motivo para chorar!