Aqui vou escrever o que me vai na alma...
Sexta-feira, 16 de Abril de 2010
A idade da inocência
Como vocês sabem trabalho numa escola, o que me obriga diariamente a lidar com os filhos dos outros, a ouvir os problemas deles, as alegrias, as tristezas, os risos, os choros...
Foi precisamente isso que aconteceu hoje. O G. é um miúdo alegre, rechonchudinho, um amor de miúdo. Vi uns amigos de volta dele, de seguida um colega meu e os comentários parvos da praxe - Ah e tal um homem não chora- e o G. quase nem apanhava respiração e fincava pé que não saia de onde estava. Aos poucos fui-me aproximando. Quando me encarou, reparei na cara dele a vergonha de estar a chorar.
- Anda G., os homens também choram, seja porque motivo for.
Levei-o para uma sala, fui buscar-lhe um copo de água com açucar, lenços de papel e fui ter com ele.
Não se conseguia controlar, o choro tornava-se mais intenso. Ele estava sentado na cadeira, sentei-me em cima da mesa e encarei-o.
- Então G. conta lá o que se passa?
Não conseguia. Senti necessidade de lhe passar a mão na cabeça e encosta-lo ao peito e susurrei-lhe:
- Tenho um filho com 12 anos (ele tem 13) acalma-te e conta lá porque choras?
Namoradas.... o G. gosta de uma colega, ela não gosta dele e os colegas arranjaram uma complicação para o lado dele, da qual ele se sentiu super envergonhado e sem vontade de encarar ninguém.
Expliquei-lhe que namoradas pode ter as que quiser ao longo da vida, que ainda lhe vão partir o coração muitas vezes, que vai chorar centenas de vezes, mas que se vai erguer sempre. Ele só conseguia acenar com a cabeça.
Abraçou-me e continuou a chorar copiosamente. Não resisti. Chorei com ele. Estes dias não tem sido fáceis e no fundo já estava a reprimir as lágrimas à muito tempo.
Depois de 5 minutos de choro a par, lá se acalmou e disse-me a medo:
- Mas eles disseram que me iam bater... Que se não for aqui dentro é lá fora.
- Pois então diz-lhes que te batam que depois vão ter um grave problema comigo.
No fim deu-me um beijo, disse obrigado e foi almoçar.
Eu fiquei, mais um pouco, mais umas lágrimas.
Não é meu filho, mas e se fosse? Outra pessoa faria aquilo que eu fiz? Não conheço os pais do G., mas será que a mãe em casa lhe soube dar a atenção que eu lhe dei?
Sabes G. os homens também choram, por tudo e por nada. Não é vergonha. Por aquele abraço apertado que me ofereceste, sei que em adulto vais ser um homem com H grande, pelo menos com carinho, muito carinho para dar.
Segunda feira lá nos voltaremos a ver e espero que com um enorme sorriso nessas bochechas rosadas.

sinto-me: mais uma amigdalite....

publicado por blogando-me1 às 18:08
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9 comentários:
De Sindarin a 16 de Abril de 2010 às 20:56
Amiga querida do meu coração! Hoje é um dia feliz para mim. Adorei que fosses comentar-me e tinha tantas, mas tantas saudades tuas. Muito obrigada por não te esqueceres de mim e não eatares zangada comigo. Tens feito parte do meu pensamento quase todos os dias e fiquei super feliz. Parabéns pelo teu blog está lindo e obrigada pelos parabéns pelo meu livro. Adoro-te amiga a sério. Bjs mto grandes para ti e os filhotes.


De Navegante a 16 de Abril de 2010 às 22:15
Passo só para agradecer o bom trabalho que fizeste hoje. No futuro desse ,G, futuro grande Homem. Esse trabalho de auxiliar. Prefeito


De Tixa a 16 de Abril de 2010 às 22:22
olá :D

também como finalista do secundário passei já por essa situação... a escola onde estudo não é muito gande, o que faz com que os alunos estejam mais perto uns dos outros, e os finalistas têm um papel importante que é "acarinhar" os caloiros a inseri-se naquele espaço novo para eles... e eu dia um dos caloiros vem ter comigo, só o conhecia da semana das praches mas nunca falámos assim muito, e disse-me que gostava de uma rapariga e eu bem, nao sabendo muito bem o que fazer fui ter com ela e disse-lhe e, hoje, fico feliz por eles estarem bem e de eu ter sido o "sto. António" deles... e ficaram marcados porque apesar de serem mais novos que eu, ele teve coragem de falar comigo sem basicamente me conhecer...

pois é eu às vezes também penso será que fazem ao meu irmão aquilo que eu faço àqueles que faço de meus irmãos por passarmos grande parte do nosso tempo no mesmo local?

beijinhos grandes e bom fim de semana :D


De tangerina a 17 de Abril de 2010 às 11:44
sister só alguém como tu tem sensibilidade para ter essa atitude, a tua essencia é a tua força, pena é que as escolas não tenham mais pessoas como tu, atentas, e com um caracter de 5.
não esperava outra coisa de ti, por isso me es especial.
Até breve lindona.
beijoca com carinho


De Pacotinhos de pipocas a 17 de Abril de 2010 às 12:42
Amiga,

devia haver mais pessoas cm tu, atentas ao próximo e c vontade de ajudar ...
Por vezes uns minutos de atenção apenas, significam tanto ...
um grande beijinho no teu coração

Óptimo FDS

Melhoras rápidas

P.S. O teu espaço está lindo ...

Beijinhos


De MIGUXA a 17 de Abril de 2010 às 17:17
Nanda,

Mãe como tu, só podia actuar dessa forma...

O G. teve a felicidade de encontrar alguém que apesar de mais velho, soube partilhar as suas ansiedades e até chorar com ele...

Bom fim de semana querida Amiga
Beijos doces para ti e teus anjos
Margarida


De TiBéu ( Isa) a 17 de Abril de 2010 às 22:34
Parabens parabens parabens, continua sempre assim. bj


De Paula C. a 19 de Abril de 2010 às 11:44
Boa semana,

Beijinhos


De rodrigando a 22 de Abril de 2010 às 23:40
AI amiga!
Quantas vezes temos de fazer de pais, de amigos, de psicólogos?
Mas digam o que disserem estas crianças muitas vezes só nos têm a nós e só se atrevem a desabafar connosco porque em casa ou não há tempo para os ouv ir ou às vezes ouvem um " deixa-te de mariquices", sobretudo se forem rapazinhos.
Na minha Escola temos do 7 º ao 12º e tanto eu como as minhas colegas conhecemos e já passámos por tantas situações idênticas.
E quando temos que os acompanhar ao hospital,estar lá horas com eles e termos que os levar a casa e descobrirmos que a mãe nem sequer trabalha e nem se deu ao cuidado de ir ter connosco?
Já me aconteceu estar no hospital com um aluno até quase `às 2 da manhã sem que ninguém da família tivesse aparecido.
Quando algo acontece de mal todos nos caiem em cima como no caso do colega daquele Escola aonde o aluno morreu afogado,o que se faz de bem e que excede em muito as nossas funções...
Um abraço


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