Aqui vou escrever o que me vai na alma...
Quinta-feira, 19 de Março de 2020
desespero
Respiro fundo. Conto, pausadamente, em ordem crescente, até me acalmar. Às vezes não sustenho as lágrimas que teimam em deslizar-me face abaixo e não controlo a voz embriagada da dor que sinto. E penso para mim que por mais que diga, tu não ouves, por mais que cale, tu não sentes, por mais que peça, tu não atendes, por mais que exista, te é indiferente, talvez se eu desaparecesse, nem desses conta, nem desses pela minha falta, talvez nem me queiras mais, tu não dizes, só dizes que me amas, só gritas, só me afastas de ti e dizes que sou eu que te afasto de mim, talvez seja, já nem sei, sinto-me perdida, quero afastar-te e não consigo, quero aguentar estes dias e ver-te e abraçar-te, quero preservar alguma da sanidade que ainda me resta, tu esgotas-me as forças e sugas-me a alma, deixo de ser eu, não porque queira, mas porque me forças a isso, quando tento ser eu, tu não deixas, se te ligo, é porque àquela hora ou estás a dormir ou estás a conduzir ou estás a trabalhar, se não ligo, é porque já não quero saber, e se digo, é porque digo, porque insisto, e se calo, é porque amuo, e às tantas já não sei, não sei, as palavras que te posso dizer, as que tenho de calar, e às tantas já não posso ser, não posso, aquilo que sou, tu apagas-me a essência, procuras fazer-me quebrar, vergar-me a ti e à tua vontade, mas não, não, eu ainda existo sem ti, pode doer, pode magoar, pode demorar, mas se for caso disso, se precisar disso para sobreviver, por mais que me custe, virar-te-ei costas e irei em busca das forças que me esgotaste.