"Viagem Imprevisível"
Sentados no sofá em frente à televisão, mãe e
filho viam um canal sobre viagens.
Inopinadamente, com a ingenuidade dos seus
cinco anos, o rebento pergunta:
- Mãe, porque eu nunca viajei?
- Mas tu já viajas-te muito meu amor. - responde
a mãe com a sua voz terna.
- Mas não me lembro de ter saido daqui. - Continua
o miúdo.
- Espera um pouco.
A mãe ergue-se do sofá e vai direito a uma
gaveta do móvel da sala. De lá, traz um álbum
de fotografias de grossa lombada. Senta-se de
novo ao lado da criança. Coloca o álbum de
recordações fotográficas em cima das pernas
e enceta em desfolhá-lo vagarosamente.
- Vês aqui esta torre? - Aponta um retrato.
- Sim! - O petiz abana a cabeça
afirmativamente.
- Chama-se Torre Eiffel e tu já
lá estives-te. A cidade chama-se Paris.
- Já lá estive?! Não me lembro. - diz o miúdo
um tanto confuso.
- Sim, não te lembras, mas já lá estiveste. Olha
tu aqui. - aponta orgulhosamente a sua barriga
de grávida.
- Estavas dentro de mim, por isso é que não te
lembras. Paris é uma cidade bela e romântica.....
- O que é "romântica" mãe?
- É uma espécie de combustível para alimentar
o amor. Mas isso agora não importa....
- E quem é este senhor que está agarrado a ti?
- pergunta o rapazito, tentando saciar
a sua curiosidade.
A mãe, ignorando e esgueirando-se
à pergunta do filho, continua a virar as páginas
do álbum de reminiscências.
- Estas a ver estes barcos? Chamam-se
gôndolas e a cidade Veneza. Tu também já lá
estives-te. - aponta de novo a barriga túmida.
- Vês...
- Quando é que eu posso viajar e ver tudo com
os meus olhos mãe? - interrompe o menino.
Com a vista humedecida de saudade e tristeza,
quase a formarem-se lágrimas, a mãe responde:
- Talvez um dia meu filho... Talvez um dia... - o resto
da frase não foi dita, ficou retida
no pensamento.
- Quando arranjar um novo pai para ti.
Fecha o álbum, puxa o rebento para si,
aperta-o, beija-lhe a cabeça e remata:
- Vá, vamo-nos deitar, já é tarde.
Pedro Ventura
Hoje folheando uma revista, encontrei lá este texto, o qual digo desde já me tocou profundamente. Não só pelo conteúdo, mas também pela mensagem que transmite. Será que aquela criança vai ser feliz se a mãe lhe arranjar um novo pai? É certo que a figura paterna faz sempre falta. Eu fui criada sem pai e não deixei de ser feliz por causa disso, revoltada sim, mas já mais crescida entendi as razões da minha mãe. Será que é melhor viver um casamento de fachada só por causa dos filhos? Será que uma criança para ser feliz tem de ter um pai? Que me perdoeem os pais divorciados, mas eu acho que não. Assim, como não precisam da mãe a tempo inteiro para serem homens/mulheres de futuro.
Escrevo estas palavras a pensar no grande homem da minha vida, o meu filho. Porque acima de tudo quero fazer dele um grande homem. A ti meu anjo, vão estas palavras "amo-te mais que tudo na vida".
Da tua mãe